Artigo Científico

ACCORD Blood Pressure: Controle intensivo da pressão arterial em pacientes diabéticos não reduz eventos cardiovasculares.

Autor: Dr. Caio Cesar Ferreira Fernandes

Resumo: Atualmente, cerca de 17 milhões de americanos são portadores de diabetes mellitus. Apesar do crescimento exponencial da incidência observado na última década, estima-se que aproximadamente 40% dos indivíduos com com fatores risco para a doença ja são, na verdade, portadores ainda não diagnosticados.
A doença cardiovascular é a principal causa de morte nos indivíduos diabéticos. As taxas de mortalidade são duas a quatro vezes maiores que a população de não diabéticos. Os diabéticos demonstram um número maior de infartos (IAM) não fatais e de acidentes vasculares cerebrais (AVC). Muitos diabéticos também são portadores de outros fatores de risco para doença cardiovascular como hipertensão arterial e dislipidemia.

Objetivo: A hipótese testada neste braço do estudo ACCORD foi se o controle estrito da hipertensão em diabéticos é capaz de diminuir o número de eventos cardiovasculares.

Métodos: O estudo incluiu de forma prospectiva e randomizada 10.251 adultos portadores de diabetes tipo II em 77 hospitais nos Estados Unidos e Canadá. Os 4733 pacientes do “grupo hipertensão”, além do controle glicêmico, foram randomizados para controle pressórico estrito, visando uma PA sistólica < 120 mmHg (n=2362) ou controle padrão, com meta < 140 mmHg (n=2371).
A idade média foi de 62 anos e 48% da coorte foi composta por mulheres. 34% apresentavam evento cardiovascular prévio e a média de hemoglobina glicada (HbA1c) foi de 8,3%. Ao final de 1 ano, a média da PA sistólica do grupo intensivo foi de 119 mmHg, comparada a 134 mmHg no grupo padrão.

Resultados: A taxa anual de desfechos combinados, que incluiu mortalidade cardiovascular, infarto agudo do miocárdio ou AVC, foi de 1,9% no grupo de controle intensivo versus 2,1% no grupo padrão (p=0,20). A mortalidade por todas as causas foi de 1,3% versus 0,5% (p=0,25) e a taxa de AVC foi de 0,3% versus 0,5% (p=0,01) respectivamente, para o grupo intensivo versus o grupo de controle padrão..
Os eventos adversos reacionados a queda de PA como bradicardia sintomática, hipotensão e síncope foram 3,3% no grupo intensivo versus 1,3% no grupo padrão (p < 0,001). A hipocalemia foi 2,1% versus 1,1% (p = 0,01) nos grupos intensivo e padrão respectivamente. Elevação de creatinina foi 12,9% no grupo intensivo versus 8,4% no grupo padrão (p < 0,001).
Por outro lado a frequência de proteinúria no seguimento foi significativamente menor no grupo de terapia intensiva comparado ao gupo padrão (p=0,09).

Conclusão: A estratégia de controle intensivo da hipertensão, visando uma PA sistólica menor que 120 mmHg, não foi superior ao controle padrão, de PA sistólica de 140 mmHg e se associou a taxas maiores de eventos adversos.

Interpretação: Nos pacientes portadores diabetes tipo II com alto risco cardiovascular, a meta de controle pressórico intensivo <120 mmHg não foi superior ao alvo menor < 140mmHg. Este alvo intensivo não reduziu os desfechos compostos de eventos cardiovasculares. Apesar da limitação desses dados, houve uma pequena redução na taxa de AVC de 0,5 para 0,3 sendo necessário tratar 89 pacientes de forma intensiva por cinco anos para a prevenção de 1 evento cerebrovascular. Houve ainda maiores taxas de eventos adversos sérios, hipocalemia e aumento de creatinina no grupo de controle intensivo.

Apresentação: Dr. William C. Cushman no ACC. 10, Atlanta, GA, Março 2010.

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