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Artigo Científico |
Efeito da nateglinida e do valsartan na
incidência de diabetes e eventos cardiovasculares em portadores
de intolerância à glicose: o Estudo NAVIGATOR
Dr.Ricardo C. Moraes
Dr.Caio Cesar F. Fernandes
Em pacientes de alto risco com intolerância à glicose e doença
cardiovascular ou fatores de risco para doença cardiovascular, o
uso do antidiabético nateglinida e/ou do anti-hipertensivo
valsartan não reduziu a taxa de eventos cardiovasculares, mas o
tratamento com valsartan diminuiu a incidência de diabetes,
enquanto a nateglinida não apresentou nenhum efeito significante
Objetivo: O objetivo deste estudo foi avaliar se o
tratamento com nateglinida, valsartan, ou ambos em pacientes com
intolerância à glicose seria efetivo na prevenção do diabetes e
de eventos cardiovasculares.
Métodos: Estudo randomizado, placebo controlado, que
incluiu 9306 pacientes portadores de intolerância à glicose (>95
mg/dL em jejum) com doença cardiovascular estabelecida e idade ≥
50 anos ou ≥ 1 fator de risco para doença cardiovascular e idade
≥ 55 anos. Os pacientes com intolerância à glicose foram
randomizados de maneira fatorial 2x2 para nateglinida (n=4645)
versus placebo (n=4661) e para valsartan (n=4631) versus placebo
(n=4675). O valsartan foi iniciado na dose de 80 mg/dia e
aumentado para 160 mg/dia após 2 semanas. A dose inicial de
nateglinida foi foi de 30 mg 3 vezes ao dia seguida de 60 mg 3
vezes por dia após 2 semanas. Todos os pacientes submeteram-se a
um programa de mudança de estilo de vida com o objetivo de
redução do peso, limitação do consumo de gorduras saturadas e
aumento da atividade física.
Os desfechos primários extendidos foram uma composição de morte
cardiovascular, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular
encefálico e hospitalização por insuficiência cardíaca e angina
instável. Os desfechos cardiovasculares principais foram morte
cardiovascular, infarto agudo do miocárdio não fatal, acidente
vascular encefálico não fatal ou hospitalização por
insuficiência cardíaca.
Resultados: Não houve diferença nas características
basais entre os grupos. No grupo valsartan, a idade média foi 64
anos, a pressão arterial sistólica média pré-randomização foi de
139 mmHg, história de doença cardíaca estava presente em 25% dos
pacientes. Os níveis médios de LDL-colesterol eram de 177 mg/dL
e de HDL-colesterol 50 mg/dL.
Após seguimento médio de 5 anos, a incidência de diabetes
ocorreu em 33% no grupo valsartan versus 37% no grupo placebo (HR
0,86; 95%CI 0,80 a 0,92; p<0,001). Os desfechos cardiovasculares
extendidos ocorreram em 14.5% versus 14.8% (p = 0.43) no grupo
valsartan e placebo, respectivamente. O desfecho cardiovascular
principal ocorreu em 8,1% dos pacientes de ambos os grupos
(p=0,85). A hipotensão arterial ocorreu em 42% no grupo
valsartan versus 36% no grupo placebo (p<0,001), e a droga
estudada foi descontinuada em 12% versus 11% (p=0,33) (Tabela
1).
Desfechos cardiovasculares |
Valsartan, n=4631 (%)
|
Placebo, n=4675 (%)
|
HR
(95% CI)
|
p
|
Progressão de diabetes
|
33,1 |
36,8 |
0,86
(0,80-0,92) |
<0,001 |
Eventos cardiovasculares compostos extendidos |
14,5 |
14,8 |
0,96
(0,86-1,07) |
0,43 |
Eventos
cardiovasculares compostos principais |
8,1 |
8,1 |
0,99 (0,86-1,14) |
0,85 |
TABELA 1
Desfechos primários – valsartan versus placebo
Ao se
analisar o efeito da nateglinida, no seguimento médio de 5 anos,
a incidência de diabetes ocorreu em 36% no grupo nateglinida
versus 34% no grupo placebo (HR 1.07; 95%CI 1.00 a 1.15;
p=0,05). O desfecho cardiovascular extendido ocorreu em 14.2%
versus 15.2% (p=0.16) e o desfecho cardiovascular principal
ocorreu em 7.9% versus 8.3% (p=0.43), respectivamente, para o
grupo nateglinida versus placebo. A hipoglicemia ocorreu em 20%
no grupo nateglinida e 11% no grupo placebo (p<0.001) e,
respectivamente, a descontinuação da droga do estudo ocorreu em
11% versus 10% (p=0,23) (Tabela 2)
Desfechos cardiovasculares |
Nateglinida, n=4645 (%)
|
Placebo, n=4661 (%)
|
HR
(95% CI)
|
p
|
Progressão de diabetes
|
36,0 |
33,9 |
1,07
(1,00-1,15) |
0,05 |
Eventos
cardiovasculares compostos extendidos |
14,2 |
15,2 |
0,93
(0,83-1,03) |
0,16 |
Eventos
cardiovasculares compostos principais |
7,9 |
8,3 |
0,94 (0,82-1,09) |
0,43 |
TABELA 2 Desfechos primários – nateglinida versus placebo
Conclusão: Entre os pacientes com
intolerância à glicose e com doença ou fatores de risco
cardiovasculares, o valsartan foi efetivo na redução do
aparecimento de diabetes em 14% (3,8% diminuição do risco
absoluto). Apesar deste beneficio, o valsartan não reduziu
eventos cardiovasculares a longo prazo. A nateglinida não
reduziu a incidência de diabetes ou eventos cardiovasculares. Ao
revés, o aparecimento de diabetes mellitus foi maior no grupo
nateglinida.
O motivo porque o valsartan foi incapaz de reduzir eventos
cardiovasculares a despeito da redução de novos casos de
diabetes é desconhecido. Talvez, o tempo relativamente curto de
acompanhamento e a mudança de estilo de vida a que foram
submetidos todos os pacientes pode correlacionar-se com a
diminuição de eventos independente do tratamento.
Referências: The NAVIGATOR Study Group. Effect of
valsartan on the incidence of diabetes and cardiovascular events.
N Engl J Med 2010;Mar 14.
The NAVIGATOR Study Group. Effect of nateglinide on the
incidence of diabetes and cardiovascular events. N Engl J Med
2010; Mar 14.
Apresentado por Dr. Robert Califf no ACC.10/i2 Summit, Atlanta,
GA, 14 de Março 2010.
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