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Artigo Científico |
Avaliação de diferentes estratégias de
otimização de diuréticos na Insuficiência cardíaca aguda –
Estudo DOSE (Diuretic Optimization Strategies Evaluation in
Acute Heart Failure)
Dr.Ricardo C.Moraes
Dr.Caio Cesar F. Fernandes
Embora diuréticos intravenosos sejam rotineiramente utilizados
na prática clínica diária, a dosagem ideal e a forma de
administração não são bem compreendidas. Somado a isso, estudos
observacionais tem demonstrado piora dos níveis de creatinina
séria e desfechos clínicos com altas doses de furosemida. Com
isso, o estudo DOSE procurou avaliar a segurança e eficácia de
diferentes estratégias da dose diurética em pacientes com
descompensação aguda da insuficiência cardíaca (ICD).
Objetivos: O estudo DOSE procurou avaliar a segurança e
eficácia de duas estratégias de dose diurética de furosemida em
pacientes com ICD: 1) administração de rotina (12/12h bolus
versus infusão continua) e 2) administração de diferentes
dosagens, sendo a dose oral de 1 x a dose de manutenção (baixa
intensidade) versus a dose oral 2,5 x dose (alta intensidade).
Métodos: Pacientes foram randomizados de forma fatorial
2x2 para receberem administração de furosemida em bolus a cada
12 horas ou continua endovenosa. A seguir, os pacientes foram
rerandomizados para receberem dose alta (2,5 vezes a dose diária
de manutenção domiciliar) ou baixa de diurético (dose
domiciliar). Após avaliação apropriada em 48h da randomização,
os pacientes poderiam diminuir a dose dos diuréticos ou serem
submetidos a um aumento de até 50% da dose. Os pacientes
selecionados utilizavam, concomitantemente, outras drogas como
inibidores de enzima de conversão da angiotensina/bloqueadores
do receptora da angiotensina (64%), betabloqueadores(83%) e
inibidor da aldosterona (28%).
Resultados: Em um total de 308 pacientes incluídos, a
fração de ejeção média foi 35 + 18% à randomização, com uma dose
basal média de furosemida de 131 mg/dia. 57% dos pacientes
tinham miocardiopatia isquêmica, 53% tinham fibrilação atrial ou
flutter atrial, e 51% tinham diabetes. A pressão arterial
sistólica média era de 119 mmHg, com uma freqüência cardíaca
média 78 bpm. Os níveis séricos médios de sódio eram 138 mg/dL e
creatinina 1,6 mg/dL. O valor médio do NT-proBNP (N-terminal
B-type natriuretic peptide) era 7439 pg/mL.
Não houve diferença estatística entre as doses fracionadas
12/12h e a infusão contínua de furosemida na escala visual de
sintomas avaliada pela área sob a curva (VAS AUC). Os valores
foram, respectivamente, 4236 versus 4373 (p=0,47). A mudança dos
níveis de creatinina foi similar com 0,05 mg/dL no grupo
fracionado versus 0,07 mg/dL contínuo (p=0,45). Os desfechos
secundários do grupo fracionado e continuo foram,
respectivamente, diminuição de volume (4237 versus 4249 ml,
p=0,89), porcentagem de falha de tratamento (38% vs. 39%, p =
0,88), mudança de peso em 72 horas (-6,8 vs. -8,1 lbs, p =
0,20), dispnéia VAS AUC de 72 horas (4456 vs. 4699, p = 0.,36) e
duração da internação 9,5 versus 5 dias (p=0,97) . A incidência
de eventos compostos de morte, re-hospitalização e visita à sala
de emergência foi similar entre os dois grupos (hazard ratio [HR]
1.19, 95% intervalo de confiança [IC] 0,86-1,66, p = 0,3).
Na avaliação da dosagem de baixa e alta intensidade diurética
também não houve diferença estatística na VAS AUC (4171 vs.
4430, p = 0,06). A mudança dos níveis de creatinina foi similar
(0,04 vs. 0,08 mg/dl, p = 0,21). Os desfechos secundários de
diminuição de volume (3575 vs. 4899 ml, p = 0,001), mudança de
peso em 72h (-6,1 vs. 8,7 lbs, p = 0,011), dispnéia VAS AUC em
72 horas (4478 vs. 4688, p = 0,04), e porcentagem de aumento da
creatinina >0,3 mg/dL em 72h (14% vs. 23%, p = 0,04) foi
significativamente pior no grupo de baixa intensidade comparado
ao grupo de alta intensidade.
Outros desfechos como tempo de permanência ( 6 versus 5 dias,
p=0,55) e porcentagem de falha de tratamento (37% vs 40%,
p=0,56) foi similar no dois grupos. A incidência de eventos
compostos de morte, re-hospitalização ou visita a sala de
emergência também foi similar em ambos os grupos (HR 0,83, 95%
IC 0,60-1,16, p = 0,28).
Conclusões
Os resultados do estudo DOSE demonstram que não existe diferença
no alivio de sintomas globais, avaliados pela escala visual da
dispnéia (VAS AUC), ou mudança da função renal, com as doses
fracionadas versus infusão continua, ou o regime de baixa versus
alta intensidade da doses de diuréticos. Além disso, a infusão
continua não foi associada com um aumento de qualquer desfecho
secundário avaliado, incluindo diurese, diminuição do peso ou
falha de tratamento. Ao contrário, a dosagem de alta intensidade
foi associada a uma significante redução da diurese, da
diminuição do peso e melhora dos sintomas, quando comparado com
baixa intensidade.
Estes resultados são importantes e reportam a duas questões
clinicas relevantes no uso de diuréticos em pacientes com ICD.
Uma das limitações deste estudo é que o protocolo permitia mudar
as medicações para ICD em até 48h da randomização, baseado na
resposta clínica. Isto poderia levar a ser tendencioso. Uma
análise dos desfechos em 48 horas pode ajudar a responder isso.
Alem disso, estes resultados são aplicáveis para pacientes com
insuficiência cardíaca crônica, que já tinham tratamento prévio
com altas doses de diuréticos.
Apresentação do Dr. G. Michael Felker no ACC.10/i2 Summit,
Atlanta, 16 de março de 2010.
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