Artigo Científico

O stent farmacológico não é superior ao convencional no infarto agudo do miocárdio com supradesnível de ST: um seguimento de 5 anos do estudo PASSION.

Autor: Dr. Bruno Paolino, Dr. Henrique B. Ribeiro.

Resumo: A análise de 5 anos do estudo PASSION, que comparou o uso do stent farmacológico com o convencional, demonstrou que não há diferença significativa entre ambos os stents, em relação a morte, reinfarto (IM) e revascularização da lesão alvo (RLA) em 1 ano, bem como à trombose do stent.

Introdução: O implante do stent farmacológico após angioplastia (ATC) diminuiu a incidência de reestenose em relação ao stent convencional, mas a maioria dos estudos com stents farmacológicos são feitos em pacientes submetidos eletivamente à ATC. Poucas são as informações disponíveis para avaliar esta técnica no contexto de pacientes com infarto agudo do miocárdio com supradesnível do segmento ST (IAMCSST) submetidos à ATC primária.

Objetivos: O estudo teve o objetivo de avaliar se o implante do stent revestido com paclitaxel é mais eficaz que o stent convencional em reduzir a necessidade de revascularização nos pacientes submetidos à ATC primária após IAMCSST.

Métodos: O estudo PASSION foi um ensaio multicêntrico, prospectivo e randomizado, que incluiu 619 pacientes com diagnóstico de IAMCSST. Estes pacientes foram randomizados para receberem stent convencional (n=310) ou revestido com paclitaxel (n=309). Todos foram tratados com AAS (80-100mg) e clopidogrel (300mg de dose de ataque, seguido por 75mg/dia por 6 meses), mas a adição de inibidores da glicoporteína IIb/IIIa não foi mandatória (a decisão foi responsabilidade do médico assistente). Os pacientes foram acompanhados por 5 anos, visando eventos clínicos – não foi feita coronariografia de rotina. Foram critérios de exclusão o choque cardiogênico, ventilação mecânica, insucesso na fibrinólise ou expectativa de vida < 6 meses. O desfecho primário foi uma combinação de morte, IM e RLA em 1 ano. Como desfecho secundário, o estudo avaliou eventos clínicos maiores em 5 anos e trombose do stent.

Resultados: Os pacientes incluídos no estudo tinham média de idade de 61 anos, 24% eram mulheres e o tempo médio entre os sintomas e a ATC foi de 3 horas. Na coronariografia, 50% das lesões culpadas envolveram a artéria descendente anterior enquanto 45% dos pacientes tinham lesões de múltiplos vasos. O procedimento de ATC foi bem sucedido em 95% dos casos, e foram implantados, em média, 1,3 stents nos dois grupos.

Não houve diferença significativa no desfecho primário do estudo (8,8% no grupo stent Paclitaxel e 12,8% no grupo do stent convencional, p = 0,12), Morte ou IM também foram similares no primeiro ano de acompanhamento (5,5% e 7,2%, p = 0,40), assim como a RLA (5,3% vs. 7,8%, p = 0,23) nos grupos paclitaxel e metálico, respectivamente. Houve 3 casos de trombose de stent em ambos os grupos.

Em 5 anos de acompanhamento, o desfecho combinado de morte cardíaca, IM ou RLA foi de 18,3% contra 22,0% (p = 0,24), morte cardíaca foi de 8,9% contra 11,5% (p = 0,28), IM foi de 6,5% contra 4,3% (p = 0,28) e RLA foi de 7,3% contra 10,5% (p = 0,16), respectivamente para o grupo de stent farmacológico e stent convencional. A taxa cumulativa de trombose definitiva de stent foi de 3,6% versus 1,7% (p = 0,20), mas se forem retiradas as tromboses que ocorreram nos primeiros 30 dias, esta taxa foi de 2,9% contra 0,8% (p = 0,06).

Conclusão: Em pacientes com IAMCSST submetidos à ATC primária, o implante de stent revestido com paclitaxel não foi melhor que o stent convencional em reduzir o desfecho primário de morte, IM e RLA em 1 ano. Em 5 anos, inclusive, há a tendência, mesmo que não significativa, de que o stent farmacológico esteja associado a maior trombose tardia de stent.

Comentários: Este estudo é o primeiro ensaio clinico randomizado de grande escala comparando os stents convencionais e revestidos com paclitaxel exclusivamente em pacientes com IAMCSST e ATC primária. Outro ensaio clínico, o estudo TYPHOON demonstrou uma redução na revascularização de artéria alvo com stents revestidos com sirolimus em pacientes com IAMCSST. Porém, houve várias diferenças entre a metodologia de ambos os estudos, como a coronariografia de controle em todos os pacientes do TYPHOON, o que pode ter aumentado a taxa de RLA. No estudo PASSION, a taxa de RLA foi muito baixa em ambos os braços de tratamento, e os desfechos primários e secundários foram predominantemente clínicos.

O estudo PASSION foi apresentado pelo Dr. Maarten Vink no ACC 2010, em Atlanta, em 16 de março de 2010.
 

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