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Artigo Científico |
Teste genético pode ajudar a selecionar dose
sob medida de anticoagulante e reduzir eventos – Resultados do
estudo Medco-Mayo Warfarin Effectiveness Study (MM-WES)
Autores: Henrique B. Ribeiro, Dr. Bruno Paolino.
Resumo: O teste genético com dois genes que predizem a
sensibilidade à varfarina, o CYP2C9 e o VKORC1, pode determinar
a maneira mais segura e eficaz de titular a dose da medicação.
Quando realizada previamente à introdução da droga, essa
abordagem reduziu o número de hospitalizações em 28%, evitando
assim a maneira atual de administração da medicação por
“tentativa e erro”.
Objetivos: Avaliar a hipótese de que o teste desses dois
genes reduz a necessidade de hospitalização aos 6 meses.
Métodos: foram selecionados 896 pacientes entre julho de
2007 e fevereiro de 2009 para o grupo genotipagem do sistema de
saúde americano MEDCO. Esses pacientes foram comparados a uma
coorte histórica com um total de 2.688 indivíduos de 49 estados
americanos. Após assinatura do consentimento informado pelo
paciente, foi feito contato com o médico que o acompanhava para
que fosse consentido em realizar o teste genético (75% dos
médicos aceitaram). As amostras de sangue foram encaminhadas
para a clínica Mayo e o resultado passado de volta para os
respectivos médicos responsáveis, o que passou a guiar a
terapêutica nesse grupo do estudo.
Resultados: As características clínicas entre os
pacientes de ambos os grupos intervenção e coorte histórica
foram semelhantes, à exceção da incidência de hipertensão, que
foi mais freqüente entre os pacientes do grupo intervenção (54,2
vs. 47%; p<0,001), e de diabetes, que foi mais freqüente no
grupo controle (15,3 vs. 11,6%; p=0,007). A população estudada
apresentou média de idade de 65 anos, e 60,5% eram homens. Em
relação à indicação para o início de terapia anticoagulante, a
incidência de fibrilação atrial foi de 41,1 vs. 40,4% (p=0,709),
a de embolia pulmonar foi de 11,8% vs. 11% (p0,501), e a de
trombose venosa profunda 25,8 VS, 24,6% (p=0,489),
respectivamente, nos grupos intervenção e controle.
No grupo da genotipagem, a dose inicial de varfarina foi
aumentada em 6,65±1,98mg/semana para os pacientes com
sensibilidade abaixo do normal à droga (p<0,01), e reduzida em
17,33±4,54mg/semana para os pacientes com sensibilidade muito
alta. O estudo evidenciou que, ao final de seis meses, o auxílio
da genotipagem para avaliar a dose inicial de varfarina reduziu
em 28% o número de hospitalizações, em comparação ao grupo
placebo (18,45 vs. 25,52%, respectivamente; HR 0,69; IC 95%
0,58-0,82; p<0,001), assim como em 27% a incidência composta de
sangramento, trombose ou embolia (5,97 vs. 8,13%; HR 0,72; IC
95% 0,53-0,97; p=0,039).
Conclusão: a genotipagem para a definição da dose inicial
de varfarina associou-se a uma redução aproximada de 30% no
risco de hospitalizações e na incidência composta de sangramento
ou tromboembolismo, em relação à terapia habitual de
anticoagulação, em pacientes com indicação de terapia
anticoagulante.
Perspectivas: O estudo mostrando sucesso nos desfechos
clínicos para pacientes com dose individualizada de varfarina
abre caminho para uma nova fase na medicina, que é a da “terapia
sob medida” (“tailored therapy”, em inglês). Existe uma grande
expectativa do sucesso dessa terapia, mostrada pelo fato de 75%
dos médicos e dos pacientes contactados terem aceitado a
conduta, e pela mudança das prescrições de varfarina de acordo
com a recomendação dos testes genéticos.
Ainda há um caminho grande a seguir, como dimensionar e aumentar
a custo/efetividade do método para a escala comercial, comparar
grupos diferentes de risco da população (idosos versus jovens,
por exemplo) e avaliar o impacto da genotipagem sobre a
necessidade ou o tempo de medição do INR. Apesar de ter
limitações importantes, como não ser randomizado, e ter sido
comparado a uma coorte história, o estudo MM-WES traz a
esperança da diminuição da alta morbimortalidade da varfarina no
tratamento anticoagulante.
O estudo MM-WES foi apresentado pelo Dr. Robert S. Epstein no
dia 16 de março de 2010, no congresso anual da American College
of Cardiology, em Atlanta, nos EUA.
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