Dr. Humberto Graner
Introdução: Acredita-se que altas doses de bloqueadores dos receptores da angiotensina II (BRA) podem ser mais eficazes em evitar eventos adversos cardiovasculares. No entanto, a efetividade desta abordagem ainda não está bem definida na literatura.
Objetivos: Determinar se monoterapia com BRA em doses altas é superior à combinação de BRA em doses habituais a bloqueadores dos canais de cálcio (BCC) na prevenção de morbidade e mortalidade hospitalar.
Desenho do Estudo: Estudo prospectivo, randomizado, aberto, multicêntrico conduzido no Japão, comparando dois grupos com diferentes tratamentos.
Métodos: Foram incluídos idosos hipertensos em monoterapia apenas, de ambos os sexos, com idade entre 65 e 85 anos. Os pacientes deveriam possuir pelo menos um fator de risco adicional para doença cardiovascular (diabetes mellitus tipo 2, doença cerebrovascular, doença arterial coronariana ou periférica, insuficiência cardíaca, ou doença renal estabelecida com Cr<2,5mg/dl). O desfecho primário foi o composto dpor eventos cardiovasculares fatais e não-fatais e morte por qualquer causa.
Inicialmente todos os pacientes incluídos recebiam olmesartana como monoterapia na dose de 20mg/dia. Se a PA alvo (<140x90mmHg) não fosse alcançada, estes pacientes eram randomizados para: (1) aumento da dose do olmesartana para 40mg/dia ou (2) associação com BCC (anlodipino ou azelnidipino) com olmesartana 20mg/dia. Se ainda assim a PA alvo não fosse atingida, uma terceira droga era permitida. O tempo de seguimento foi de 03 anos.
Resultados: Foram incluídos no estudo 1.164 pacientes: 578 no grupo BRA em alta dose e 586 no grupo BRA + BCC. A média de idade foi de 73,6±5,4 anos, 55,8% eram do sexo feminino e aproximadamente 70% dos pacientes já possuíam doença cardiovascular prévia. A PA média no início do estudo era 158x85mmHg e foi bem controlada nos dois grupos (135x74mmHg no grupo BRA em doses elevadas e 133x73mmHg no grupo BRA+BCC; p<0,05). A incidência de desfecho primário foi 58 pacientes no grupo BRA em alta dose e 48 pacientes no grupo BRA+BCC (p=0,219). Nos pacientes com doença cardiovascular estabelecida, o grupo em uso de BRA+BCC apresentou menos eventos que o grupo BRA (p=0,035). No entanto, em pacientes diabéticos, não houve diferença no número de desfechos primários entre os dois grupos (p=0,957).
Conclusão: A combinação de BRA+BCC foi superior ao BRA em dose alta na redução de eventos cardiovasculares em idosos hipertensos com doenças cardiovasculares.
Perspectivas: Este estudo foi desenhado para tentar determinar se a monoterapia com BRA em doses altas seria superior à combinação com bloqueador de canais de cálcio. Para tanto, os autores avaliaram pacientes idosos, de alto risco, esperando verificar diferenças significativas em desfechos cardiovasculares. O estudo não verificou diferenças nos desfechos primários entre os grupos, já que o controle pressórico controle pressórico foi alcançado em ambos. O grupo de pacientes com doença cardiovascular estabelecida se beneficiou da combinação terapêutica de BRA+BCC. Isso demonstra que, nesses pacientes, o BRA isoladamente, mesmo em dose alta, não confere benefícios adicionais, e a associação com BCC pode ser melhor, sobretudo nesses pacientes idosos, cuja experiência já demonstra bons resultados com esta classe de medicamentos.
Referência: The Comparison of High-dose Angiotensin II Receptor Blocker (ARB) Monotherapy Versus Combination Therapy of ARB With Calcium Channel Blocker on Cardiovascular Events In Japanese Elderly High-risk Hypertensive Patients: Olmesartan And Calcium Antagonists Randomized (OSCAR) Study. Apresentado no ACC 2011 pelo Dr. Hisao Ogawa.