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PURE: A baixa aderência em todo o mundo na prevenção cardiovascular secundária (28/08/2011 11:16)

Autor: Bruno Paolino.

Resumo: O Dr. Salim Yusuf, da Universidade McMaster, de Ontário, no Canadá, apresentou o estudo PURE no Congresso Europeu de Cardiologia, em Paris. Neste estudo, verificou-se que a aderência a drogas para a prevenção cardiovascular secundária é baixa em todos os 17 países avaliados, porém o uso das medicações é progressivamente mais baixo dos países de alta renda para os de baixa renda.

Introdução: Diferenças entre nações ricas e pobres podem ser percebidas em vários aspectos, incluindo o acesso aos tratamentos médicos para a prevenção secundária à doença cardiovascular. A aderência ao tratamento, entretanto, é difícil, mesmo que as drogas sejam simples, baratas e distribuídas pelos governos locais. Apesar de haver várias drogas de benefício efetivamente comprovado neste contexto, a prevenção secundária da doença cardiovascular continua a ser um desafio no mundo inteiro e não há informações na literatura  sobre as diferenças na aderência a estas medicações em países de baixa, média e alta renda.

Metodologia: O estudo PURE incluiu 153 996 mil pacientes entre 35 e 70 anos com história prévia de infarto ou de doença cerebrovascular. Foram avaliados pacientes de 628 comunidades urbanas e rurais de 17 países, que foram divididos em renda alta (Canadá, Suécia e Emirados Árabes Unidos), média-alta (Argentina, Brasil, Chile, Polônia, África do Sul e Turquia), média-baixa (China, Colômbia e Irã) e baixa (Bangladesh, Índia, Paquistão e Zimbábue). Além do uso das medicações prescritas, foram coletadas informações sobre idade, sexo, grau de instrução e fatores de risco cardiovascular.

Resultados: Em todos os países incluídos, a aderência às drogas foi baixa. Os resultados, no entanto, variaram bastante entre os países de renda alta e os países subdesenvolvidos ou de renda baixa. A renda de cada nação respondeu por 2/3 da variação na taxa de aderência às medicações, que pode ser vista na tabela 1. Nos países de baixa renda, 90% dos pacientes não tomavam pelo menos 1 medicação prescrita e 80% não estavam em uso de qualquer medicação para prevenção secundária.

p tendência ente países de alta e baixa renda <0,0001.

A diferença também se mostrou significativa em relação ao sexo (mulheres são menos aderentes que homens) e à idade (pacientes abaixo dos 60 anos são menos aderentes). Além disso, há uma taxa de uso de medicações menor entre os pacientes de zonas rurais, em comparação aos pacientes de comunidades urbanas, conforme mostra a tabela 2.

Conclusão: A aderência à prevenção secundária para a doença cardiovascular é baixa em todos os países pesquisados. Entre os fatores que se relacionam com a taxa de adesão às medicações, o mais importante foi o desenvolvimento econômico do país de residência, mas também houve relação significativa com a urbanização da região pesquisada e a idade e o sexo do paciente.

Perspectivas: O estudo apresentado pelo Dr. Salim Yusuf é extremamente importante, na medida em que traz dados alarmantes sobre todos os países, mesmo os de alta renda. A adesão às drogas é um problema em todo o mundo e demonstra que novos modelos devem ser encontrados para se manter os pacientes em uso de todas as medicações. Considerando-se que os pacientes selecionados já tinham evento cardiovascular prévio e que a aderência mesmo às drogas mais simples, como o AAS, tiveram resultados fracos, o estudo indica um cenário pior até que as expectativas mais pessimistas. Não estão claras, no entanto, as razões para estes resultados. Provavelmente os maus resultados não estão ligados à segurança e aos efeitos colaterais das drogas, uma vez que elas são, na maioria, baratas e seguras. A questão pode estar ligada à dificuldade de acesso ao serviço médico e à baixa sensação de vulnerabilidade dos pacientes e dos seus médicos, quando o evento cardiovascular se coloca cada vez mais no passado. Estes resultados colocam em evidência a necessidade da distribuição de medicações pelos governos, como o brasileiro, ser adicionada a uma política de seguimento mais intensivo destes pacientes por profissionais menos qualificados, mas que acompanhem os pacientes de forma mais próxima.

 


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