ECOST: Custo e efetividade da monitorização à distância com telecardiologia em pacientes submetidos a implante de CDI (29/08/2011 14:17)
Autor: Dharam J. Kumbhani, M.D.
Traduzido por: Dra. Fernanda Seligmann Feitosa
Introdução: Com o aumento do número de indicações, o implante de cardiodesfibriladores (CDI) é um dos procedimentos que mais cresce na cardiologia atual. Por razões técnicas e de segurança, o seguimento rotineiro dos pacientes é necessário a cada 3 meses. Esse fato aumenta significativamente o custo e a utilização de recursos. A monitorização à distância parece uma alternativa atraente, já que a retransmissão de informações do aparelho e dos choque terapêuticos poderia diminuir a necessidade de visitas de rotina.
Hipótese: A monitorização à distância seria segura (não-inferior) e custo-efetiva quando comparada a visitas rotineiras para a monitorização de pacientes submetidos a implante de CDI.
Métodos: Após o implante de CDI, todos os pacientes foram acompanhados no consultório dentro de 1 – 3 meses. Após esse tempo, os pacientes foram randomizados para receber monitorização à distância ou visitas rotineiras a cada 6 meses. Os pacientes monitorizados à distância seriam vistos no consultório sempre que houvesse uma função anômala do CDI, ou se um evento de relevância clínica fosse transmitido pela monitorização remota. Uma visita no consultório era realizada em todos os pacientes anualmente.
Resultados: Um total de 433 pacientes foram randomizados, 212 para acompanhamento padrão e 221 para a monitorização à distância. As características basais eram similares entre os dois grupos. Cerca de 85% dos pacientes tinham o CDI implantado pela primeira vez e 53% dos pacientes tiveram como indicação do CDI a prevenção primária. O desfecho primário do estudo (tempo livre de eventos adversos cardíacos maiores) foi similar entre as duas estratégias de acompanhamento (38,5% vs. 41,5%; HR 0,91;IC 95% 0,68–1,23; p<0,05 para não-inferioridade; p = 0,53 para superioridade). A mortalidade global também foi similar (~9% nos dois grupos), assim como a taxa de eventos adversos cardíacos maiores (26,7% vs. 29,7%; p > 0,05). A incidência de choques inapropriados foi significativamente menos frequentes nos pacientes com monitorização à distância em comparação àqueles com visitas rotineiras (5% vs. 10,4%, respectivamente; p = 0,03), assim como o número de hospitalizações (1,4% vs. 5,2%, respectivamente; p = 0,02). O número total de choques inapropriados foi numericamente menor no grupo de monitorização à distância (28 vs. 283; p > 0,05). O número total de choques apropriados também foi menor no grupo submetido a controle distante (499 vs. 2.081; p < 0,05). Esse fato foi associado a um aumento significativo na longevidade da bateria do CDI (-0,07% vs. -0,18% por dia; p = 0,02). A avaliação da qualidade de vida, avaliada pelo formulário curto (SF)-36 foi semelhante entre os dois grupos.
Perspectivas: Os resultados do presente estudo indicam que a monitorização à distância é não-inferior às consultas rotineiras no que diz respeito à segurança, com uma redução significativa na quantidade de choques, tanto inapropriados quanto apropriados. Esta estratégia foi associada também a maior longevidade da bateria do CDI quando comparada à monitorização rotineira. Entretanto, análises de custo-efetividade ainda são necessárias, inclusive compreendendo os recursos necessários para revisão da monitorização diária e revisão da informação transmitida dos aparelhos, em contraposição à melhora na performance do CDI.
A monitorização à distância ganhou atenção nos últimos anos, com a promessa de simplificar o cuidado dos pacientes após o implante de CDI. Os estudos indicam que, de todas as consultas de rotina, cerca de 10% delas geram uma ação clínica relevante, como mudanças na programação. Atualmente, a monitorização à distância está disponível na maioria das empresas de CDI, com diferenças tênues na sua forma de funcionamento. Uma observação interessante deste trabalho é que houve um grande atraso na avaliação do primeiro evento arrítmico tanto no grupo de monitorização à distância quanto no grupo controle, com variações significativas entre os centros (variando de dias a semanas). Similarmente, apesar de não necessitarem consultas de rotina, houve cerca de 15% de não aderência no grupo submetido à monitorização à distância. Este e outros fatores como os problemas na telecomunicação deverão ser avaliados antes que a monitorização à distância possa ser indicada rotineiramente para pacientes submetidos a implante de CDI.
Referência: Effectiveness and Cost Of ICD follow-up Schedule with Telecardiology. Apresentado pelo Dr. Salem Kacet no Congresso Europeu de Cardiologia 2011, Paris, França.
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