Autor: Dr. Bruno Paolino
Resumo: O Dr. Jasper Brugts apresentou nesta tarde, no Congresso Europeu de Cardiologia, em Estocolmo, na Suécia, o estudo PERGENE. A análise demonstrou que, em pacientes com doença arterial coronariana, a análise de 12 genes relacionados à via farmacodinâmica dos inibidores da ECA (iECA) pode distinguir os pacientes respondedores a essa classe de drogas dos não respondedores, o que pode ajudar na redução da morbidade e mortalidade cardiovascular desses pacientes.
Objetivos: Determinar o perfil genético de um subgrupo de pacientes do estudo EUROPA relacionado à via farmacodinâmica do sistema renina angiotensina-aldosterona (SRAA), para identificar os respondedores aos iECA e avaliar a diferença na evolução entre respondedores e não-respondedores à medicação.
Métodos: O estudo avaliou os pacientes do estudo EUROPA, que randomizou 12218 portadores de doença arterial coronariana estável para receberem perindopril ou placebo. O estudo principal demonstrou, após seguimento de 4,2 anos, uma redução de 20% no risco de morte cardiovascular, infarto não-fatal e ataque cardíaco abortado nos pacientes em uso de iECA. Um subgrupo de 9454 pacientes teve o DNA isolado para a análise de 52 polimorfismos de nucleotídeo simples (SNIPs) em haplótipo marcado. O desfecho primário avaliado nessa subanálise foi o mesmo do estudo principal, ou seja, mortalidade cardiovascular, IAM não-fatal e morte súbita abortada.
Resultados: Foram identificados 3 SNIPs, localizados nos genes do receptor tipo-II da angiotensina e do receptor tipo-I da bradicinina, significativamente associados a um benefício do tratamento com iECA. Um escore farmacogenético incluindo o número de alelos desfavoráveis na combinação desses 3 genes foi criado e demonstrou que, a cada aumento do escore, há uma redução do risco no grupo placebo (de 12,2 no escore 0 a 8,1% no escore ≥4) e um aumento do risco no grupo perindopril (6,3 no escore 0 a 10,3% no o escore ≥4).
Desta forma, foi possível identificar um grupo de respondedores ao iECA (escore dos alelos até 2 - 73,5% dos pacientes) e de não-respondedores (escore dos alelos ≥3 - 26,5% dos pacientes). No grupo dos respondedores, houve uma redução significativa do desfecho primário com o tratamento com perindopril (HR 0,67; IC 95% 0,56 – 0,79; p<0,05), o que não ocorreu no grupo dos não-respondedores (HR 1,26; IC 95% 0,97 – 1,67; p=NS).
Conclusão: O estudo identifica, através de análises do perfil genético, os pacientes respondedores aos iECA, que terão benefício no tratamento com esta classe de medicamentos.
Perspectivas: O estudo apresentado pelo Dr. Brugts foi o primeiro a mostrar benefício da avaliação genética para o tratamento com iECA, e solidifica ainda mais a farmacogenética como direcionamento da medicina atual. Um tratamento individualizado, guiado pelo perfil genético do paciente, pode ser a estratégia para o tratamento de pacientes portadores de insuficiência cardíaca com iECA. Estudos maiores em outros grupos de pacientes são fundamentais para a confirmação desses resultados.
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