Autor: Dr. Roberto Rocha Giraldez.
Resumo: O estudo CORP foi um ensaio clínico controlado e demonstrou que a colchicina é mais eficiente que o placebo, em adição à terapia convencional, em reduzir a recorrência e persistência de sintomas da pericardite.
Introdução: Recorrência dos sintomas é a complicação mais freqüente da pericardite e pode acometer entre 20 e 50% dos seus portadores, a despeito do tratamento com agentes anti-inflamatórios. A pericardite recorrente afeta a qualidade de vida de seus portadores e promove readmissões hospitalares, aumentando os custos do tratamento. Estudos preliminares observacionais e dois estudos randomizados unicêntricos abertos (CORE e COPE) sugeriram que o uso da colchicina associado a medicamentos anti-inflamatórios é seguro e eficaz na prevenção de sintomas torácicos recorrentes. Baseadas nesses estudos e na opinião de especialistas, as Diretrizes da Sociedade Européia de Cardiologia de 2004 passaram a recomendar o uso de colchicina no tratamento da pericardite recorrente. Porém, faltava um estudo multicêntrico testando a droga neste contexto.
Métodos: O estudo CORP (COlchicine for Recurrent Pericarditis) foi o primeiro ensaio clínico multicêntrico randomizado duplo-cego que avaliou o emprego da colchicina em relação ao placebo na prevenção secundária de pericardite recorrente. O estudo foi desenvolvido em 4 centros na Itália e recrutou 120 pacientes consecutivos que apresentaram uma primeira recorrência de pericardite. O objetivo do estudo controlado CORP foi avaliar a eficácia e segurança da colchicina em relação a placebo em pacientes que recebiam tratamento padrão.
A meta primária do estudo foi avaliar a recorrência de pericardite ao final de 18 meses. As metas secundárias foram:
- persistência de sintomas após 72 horas;
- taxa de remissão após 1 semana;
- número de recorrências;
- tempo até a primeira recorrência;
- hospitalizações relacionadas à doença
- tamponamento cardíaco e;
- pericardite constritiva
A colchicina foi administrada como terapia adjunta ao tratamento anti-inflamatório (aspirina 800mg a 1,0g a cada 8 horas ou ibuprofeno 600mg a cada 8 horas por 7 a 10 dias com redução gradual em 3 a 4 semanas) em uma dose inicial de ataque de 1,0 a 2,0mg no primeiro dia seguida de uma dose de manutenção de 0,5 a 1,0mg por 6 meses. A dose mais baixa foi administrada a pacientes com menos de 70 Kg ou intolerantes a doses mais elevadas.
Resultados: As características basais foram bastante similares entre os grupos. A maioria dos pacientes (82%) apresentou pericardite idiopática e os 18% restantes tiveram pericardite de provável etiologia autoimune. Cerca de 9% dos pacientes já havia recebido tratamento prévio com corticóides.
O uso de colchicina reduziu significativamente a incidência de recorrências ao final de 18 meses, quando comparado ao grupo placebo (25% vs. 55%; RR 0,44; IC 95% 0,27-0,73; P<0,001). Esse resultado corresponde a um número necessário para tratar (NNT) de apenas 3 pacientes. A persistência de sintomas após 72 horas foi significativamente menor no grupo colchicina em relação ao placebo (23,3% vs. 53,3%; RR 0,46, IC 95% 0,26-0,73; p=0,001), assim como o número médio de episódios recorrentes (0,1 vs. 1,0; P<0,001). Similarmente, a colchicina aumentou a taxa de remissão em uma semana (82% vs. 48%, P<0,001) e prolongou o intervalo de tempo até a recorrência (2,5 vs. 1 mês, p<0,001). Não houve diferenças nas taxas de readmissão hospitalar, tamponamento cardíaco ou pericardite constritiva.
A taxa global de eventos adversos foi similar entre os grupos (7% vs. 7%; P=0,99), assim como as taxas de sintomas gastrointestinais e hepatotoxicidade. As taxas de interrupção da colchicina não diferiram do grupo placebo (8% vs. 7%).
Conclusões e Perspectivas: A colchicina é uma droga de baixo custo que, em adição à terapia anti-inflamatória tradicional, parece eficaz em aliviar rapidamente os sintomas e melhorar as taxas de remissão e de recorrência da pericardite. É possível que tais achados não possam ser generalizados para outras populações ou condições clínicas, uma vez que esse estudo analisou exclusivamente pacientes após sua primeira recorrência. Assim, os resultados não se aplicam aos portadores de pericardite de outras etiologias como bacterianas ou neoplásicas. Da mesma forma, o estudo recrutou somente adultos e os resultados não devem ser aplicados a populações infantis. É importante salientar que a colchicina não está aprovada para uso na prevenção de pericardite e que este emprego deve ser tratado como fora da bula.
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