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Tratamento da regurgitação mitral com MitraClip demonstra benefícios em pacientes com insuficiência cardíaca refratários à ressincronização cardíaca

Autor: Dra. Fernanda Seligmann Feitosa

Resumo: Estudo observacional apresentado no primeiro dia do Congresso Europeu de Cardiologia 2011 que demonstrou que o implante percutâneo de MitraClipe melhora sintomas e promove remodelamento ventricular esquerdo reverso em pacientes com insuficiência mitral (IMi) que não responderam à terapia de ressincronização cardíaca.

Introdução: O tratamento da insuficiência cardíaca (IC) avançada permanece um desafio aos cardiologistas. Uma das terapias disponíveis para os pacientes que permanecem em CF III ou IV a despeito da terapia medicamentosa otimizada é a ressincronização cardíaca. Entretanto, apesar de seu benefício indiscutível, cerca de 20 a 25% dos pacientes podem não responder a esta terapia. Uma das causa da má resposta à terapia de ressincronização é a presença de insuficiência mitral funcional. Este estudo avaliou o uso de um sistema percutâneo de reparo valvar, o MitraClip, na melhora funcional dos pacientes com insuficiência cardíaca CF III e IV que não respondem à terapia de ressincronização cardíaca e com insuficiência mitral funcional grave.

Métodos: O estudo, chamado PERMIT-CARE, foi um estudo observacional que avaliou a eficácia e a segurança do tratamento com MitraClip em 51 pacientes com insuficiência mitral funcional clinicamente significativa em sete centros da Europa. Todos os pacientes haviam sido submetidos à terapia de ressincronização cardíaca há pelo menos 6 meses, sem mudança dos sintomas ou da classe funcional (não-respondedores). Todos os pacientes foram considerados inaptos para a cirurgia convencional de regurgitação mitral, devido ao alto risco cirúrgico. Como desfechos foram avaliados a morbimortalidade perioperatória (<30 dias) e pós-operatória, além da mudança dos sintomas e das dimensões e volumes ventriculares esquerdos após 6 meses.

Resultados: Os pacientes tinham média de idade de 70±9,2 anos, 86% eram do sexo masculino e estavam em classe funcional NYHA III (63%) ou IV (35%). Eram pacientes graves, com 22% de diabéticos, 29% tinham doença pulmonar obstrutiva crônica associada, 70% insuficiência renal crônica e 16% haviam sofrido AVC prévio. Eram pacientes de alto risco cirúrgico, como demonstrado pelo euroscore logístico médio de 29,7 ± 19,4 e escore STS de 13,9 ± 14,6. Após seguimento médio de 14 meses, houve redução significativa da classe funcional e da insuficiência mitral aos 3, 6 e 12 meses, com melhora progressiva. Os volumes sistólico e diastólico finais do ventrículo esquerdo também sofreram redução significativa. A mortalidade estimada em 30 dias foi de 4,2% e a mortalidade global de 18%. As causas de morte foram morte súbita (1 paciente), causas cardiovasculares (5 pacientes) e causa extra-cardíaca em 1 paciente.

Conclusões: O tratamento da insuficiência mitral funcional com MitraClip é viável, seguro e leva à melhora substancial da classe funcional NYHA e ao remodelamento reverso do ventrículo esquerdo em aproximadamente 70% dos pacientes dos pacientes com insuficiência cardíaca não respondedores à terapia de ressincronização cardíaca.

Perspectivas: Os resultados deste estudo sugerem que o MitraClip pode oferecer, pela primeira vez, uma solução para pacientes que tem insuficiência mitral grave e que respondem à ressincronização cardíaca. Os resultados do estudo PERMIT-CARE são intrigantes, já que os ensaios com cirurgia convencional para correção da insuficiência mitral funcional, tanto através de reparo valvar convencional quanto de técnicas de remodelamento e de reconstrução da geometria ventricular esquerda, apesar de inicialmente terem apresentado resultados promissores, não demonstraram benefícios desta estratégia. Uma possível razão dos resultados encontrados neste estudo pode se dever ao fato da técnica de implante do MitraClip, por ser uma estratégia pouco invasiva, diminuir o risco inerente ao procedimento cirúrgico, melhorando a relação risco-benefício associado à correção da regurgitação valvar. Entretanto, o estudo é apenas um gerador de hipóteses, e o real benefício do sistema MitraClip nestes pacientes deve ser avaliado em ensaios clínicos maiores, randomizados e controlados.

Referência: Percutaneous MITral valve repair in CArdiac REsyncrhronization therapy: PERMIT-CARE Registry. Apresentado pelo Dr. Angelo Auricchio, da Fondazione Cardiocentro Ticino de Lugano, Suíça, no Congresso Europeu de Cardiologia 2011.

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