Autor: Dr. Roberto Rocha Giraldez
Introdução: Dados recentes da Organização Mundial de Saúde indicam que em 2030, aproximadamente 23,6 milhões de pessoas vão morrer de doenças cardiovasculares em todo o mundo. Sabe-se também que cerca de 20% da população mundial adulta é portadora de síndrome metabólica, um conjunto específico de alterações do metabolismo de carboidratos e de lipídios que as predispõe a apresentar doença cardiovascular. Nesse sentido, a dieta é um elemento essencial para o desenvolvimento e controle da síndrome metabólica.
Recentemente, diversos estudos experimentais e observacionais tem sugerido que o consumo de chocolate pode ter um efeito benéfico sobre a saúde por sua ação antioxidante, anti-hipertensiva, anti-inflamatória, antiaterogênica e antitrombótica. Alguns estudos mostram que o chocolate pode inclusive aumentar a sensibilidade à insulina. Ainda não existem dados literatura, no entanto, que demonstrem redução de eventos clínicos como morte, infarto ou acidente vascular cerebral (AVC) relacionada ao consumo de chocolate. Por isso, um conjunto de pesquisadores da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, liderada pelo Dr. Oscar H. Franco, desenvolveu uma meta-análise para avaliar a correlação entre consumo de chocolate e doença cardiovascular.
Métodos: A meta-análise foi desenhada a partir de 7 estudos observacionais (6 estudos de coorte e 1 estudo transversal). Os estudos relataram simplesmente o consumo global de chocolate, sem distinguir o tipo de chocolate (amargo ou ao leite). Foram incluídos barras de chocolate, bebidas achocolatadas, biscoitos e sobremesas. O consumo de chocolate foi dividido em 3 categorias: baixo (nunca), intermediário (uma vez entre 1 mês e 1 semana) e elevado (mais de 1 vez por semana). A meta-análise avaliou como meta primária o risco de desenvolvimento de distúrbios cardiometabólicos, incluindo doença cardiovascular (doença arterial coronária e AVC), diabetes e síndrome metabólica, ao comparar os níveis mais altos aos mais baixos de consumo de chocolate. O tempo de seguimento variou de 8 a 16 anos, dependendo do estudo. As medidas de associação entre o consumo de chocolate e as metas clínicas foram ajustadas para idade e múltiplas outras variáveis, como sexo, índice de massa corpórea, atividade física, tabagismo, fatores dietéticos e nível educacional.
Resultados: A mata-análise incluiu 114.009 participantes com e sem doença cardiovascular. O consumo elevado de chocolate esteve associado a uma redução de 37% do risco cardiovascular (RR 0,63; IC 95% 0,44-0,90) e a uma diminuição de 29% do risco de AVC (RR 0,71; IC 95% 0,52-0,98). O estudo não detectou qualquer associação entre a ingestão de chocolate e a prevenção de insuficiência cardíaca (RR 0,95; IC 95% 0,61-1,48). Em um único estudo realizado no Japão verificou-se uma relação bastante favorável entre consumo de chocolate e diabetes, com diminuição do risco (HR 0,65 ; IC 95% 0,43-0,97).
Conclusão e Perspectivas: O consumo de quantidades elevadas de chocolate está associado a redução do risco cardiovascular, isto é, redução de doença coronária e AVC. Esses resultados, no entanto, precisam ser analisados com bastante cautela uma vez que os chocolates comercialmente disponíveis são, geralmente, bastante calóricos (500cal/100g) e sua ingestão excessiva pode levar a ganho de peso, aumento do risco de diabetes e doença cardiovascular, anulando seus efeitos benéficos. Deve-se observar que a quantidade máxima de chocolate ingerida foi bastante limitada neste estudo, ou seja, de até uma vez por semana.
Referência: Adriana Buitrago-Lopez ET AL. British Medical Journal 2011; 343:d4488doi:10.1136/bmj.d4488 (online). Apresentado no Congresso Europeu de Cardiologia 2011, Paris, França.
Desenvolvido pela Diretoria de Tecnologia da SBC - Todos os Direitos Reservados
© Copyright 2010 | Sociedade Brasileira De Cardiologia | tecnologia@cardiol.br