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Podemos acreditar em um efeito “duradouro” da estatinas? Resultados de 11 anos do ASCOT-LLA

Autor: Dr. Humberto Graner Moreira

Introdução: O estudo ASCOT (Anglo-Scandinavian Cardiac Outcomes Trial) envolveu 19.342 pacientes randomizados para receberem duas estratégias de tratamento anti-hipertensivo para diminuir eventos cardiovasculares. Destes, 10.305 pacientes com colesterol total <250mg/dl foram randomizados sequencialmente para receberem atorvastatina 10mg ou placebo – ASCOT-LLA (Lipid Lowering Arm). O estudo foi interrompido prematuramente em 2003 após análise preliminar apontar diminuição de mortalidade de 36% no grupo atorvastatina em 3 anos de seguimento. Após 7 anos do término deste estudo, os investigadores conseguiram obter dados sobre a mortalidade dos pacientes incluídos no Reino Unido.

Métodos: O estudo ASCOT original randomizou 4.605 pacientes, apenas no Reino Unido, para receberem atorvastatina 10mg ou placebo. Após acompanhamento médio de 3,3 anos, o estudo foi interrompido, e esses pacientes, independentemente da randomização inicial, foram tratados ou não com atorvastatina, de acordo com diretrizes locais e critérios clínicos. A cada 2-3 meses, dados sobre a mortalidade desses pacientes eram obtidos, incluindo causas de morte.

Resultados: Ao final de 2010, foram identificados 3.625 pacientes que estavam vivos (980 mortes). Destas mortes, 460 ocorreram naqueles originalmente randomizados para atorvastatina, e 520 naqueles alocados no grupo placebo (HR 0,86; IC 95% 0,76 – 0,98; p=0,02). Não houve diferenças entre os grupos em relação à mortalidade cardiovascular (HR=0,89; p=0,32). No entanto, morte não-cardiovascular foi significativamente menor no grupo inicialmente alocado para atorvastatina (HR 0,85; IC 95% 0,73-0,99; p=0,03), justificado principalmente por redução nas mortes por doenças infecciosas e/ou respiratórias. A mortalidade por câncer foi similar entre os grupos. 

Conclusões: Os autores concluem que, nesses pacientes, os achados revelam uma certa “herança” em longo prazo do benefício do tratamento com atorvastatina, mesmo após 8 anos do término do estudo original.

Perspectivas: Este é um estudo observacional numa coorte originalmente randomizada para tratamento com atorvastatina ou placebo. Ao final do estudo ASCOT-BPLA, dois anos após a interrupção do braço LLA, o uso de estatinas já era semelhante entre os grupos. Este dado não foi obtido ao final deste seguimento de quase 8 anos, uma vez que as informações diziam respeito apenas à mortalidade. Ainda assim, os resultados deste estudo confirmam os benefícios e a segurança observados em outros estudos de longo prazo com estatinas, o 4S (Scandinavian Simvastatin Survival Study) e o WOSCOPS (West of Scotland Prevention Study), que demonstraram redução significativa de mortalidade por todas as causas em 15% e 12%, respectivamente. Ainda assim, recomenda-se cautela na interpretação desses resultados, sobretudo por se tratar de um benefício inferido das estatinas na prevenção primária, algo ainda objeto de muito debate. Além disso, não há explicação para um efeito “duradouro” do uso de estatinas na mortalidade por todas as causas, mas não na mortalidade cardiovascular.

Por fim, sobre esta “herança” das estatinas na mortalidade por doenças infecciosas, esta informação também precisa ser vista com cuidado. Resultados de outros estudos observacionais têm sugerido que o uso da estatina pode reduzir mortalidade por sepse. Mas, aqui, este pode ter sido um fator de confusão, ou mesmo acaso. Se estes dados também vão estimular a realização de um estudo prospectivo em pacientes com maior risco de infecção para determinar a influência da estatina nesse contexto, também é algo a conferir.

 Referência: The Anglo-Scandinavian Cardiac Outcomes Trial: 11-year mortality follow-up of the lipid-lowering arm in the UK. Apresentado pelo Dr. Peter Sever no European Congress of Cardiology 2011, Paris, França, e publicado simultaneamente no European Heart Journal

(http://eurheartj.oxfordjournals.org/content/early/2011/08/26/eurheartj.ehr333.full)

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