Entrevistas realizadas durante os dias do congresso (26/05/2008 09:36)
Terminado o Congresso Mundial 2008, apresentamos algumas entrevistas realizadas durante os dias do congresso, com 3 dos mais renomados e conhecidos cardiologistas brasileiros presentes na ocasião.
Acompanhem o que nós conversamos sobre os temas apresentados, dentre tantos em que os cardiologistas brasileiros participaram.
Inicialmente, o Dr. Protásio Lemos da Luz, diretor Clínico do InCor, e da Unidade Clínica de Aterosclerose, participou de mesa redonda sobre Tratamento Atual a Insuficiência Coronariana Crônica:
SBC: Como podemos diferenciar o paciente vulnerável para ocorrência de evento tromboembólico de um paciente estável?.
Dr. Protásio: primeiramente devemos valorizar a história clínica, como por exemplo a presença de angina, infarto do miocárdio recente, angina refratária aos medicamentos , os idosos, e a presença dos fatores de risco. A utilização de exames não invasivos, como ecg, eco, cintilografia miocárdica, nos darão informações sobre a extensão do comprometimento miocárdico, e posteriormente o estudo hemodinâmico, que identificará as lesões de tronco, lesões proximais em 2 ou mais vasos, sinais de placa instável ou com trombose intra coronária, e os portadores de fração de ejeção igual ou abaixo de 40%.
SBC: O controle moderado dos fatores de risco nos portadores de I.Co crônica, nos da segurança suficiente para manter o tratamento clínico sem necessidade de de indicar a revascularização miocárdica? Dr. Protásio: O controle dos fatores de risco precisa ser rigoroso , e não moderado , quando se pretende obter segurança com o tratamento clínico, perseguir as metas como níveis tensionais de 130x80 mmhg, ldl colesterol naqueles de alto risco abaixo de 70 mg/dl, hemoglobina glicada igual ou abaixo de 6,0%, e níveis de glicemia abaixo de 100 mg/dl. A cessação do fumo é primordial para obtenção desta estabilidade e o exercício físico deve ser indicado com o critério de pelo menos 3 x na semana, por período de 40 a 50 minutos , e que provoque a reação moderada de sudorese.
SBC: Qual sua opinião quanto ao score de cálcio ser indicado em todos os pacientes com fatores de risco para doença coronária.
Dr. Protásio: O score de cálcio vem provando ser um preditor da presença de aterosclerose e eventos cardiovasculares, que associado à angiotomografia pode contribuir como exame não invasivo na identificação de pacientes com fatores de risco cardiovascular. Recentemente foi publicado no New England J Cardiology, um estudo que considerada o score de cálcio acima de 100, já um preditor da doença aterosclerótica. Contudo o consumo moderado de alcool, contribui para redução do score de cálcio . Já está em andamento na Unidade Clínica de Aterosclerose , do InCor, o "projeto sobrevida" que avaliará a sobrevida e os índices de envelhecimemento sobre a influência do revestarol em ratos normais. O interesse será demonstrar a capacidade replicativa das células conjuntamente com a restrição calórica, já que foi a única intervenção que contribui com aumento da sobrevida. O revestarol e a restrição calórica tem as mesmas vias de ação, estimulando a preservação e reparação do DNA, e portanto aumentando a sobrevida, e que talvez seja um dos mecanismos que está por trás da ação protetora do vinho.
Atualmente tem se dado muita ênfase ao tratamento medicamentoso da aterosclerose para redução de eventos cardíacos e vasculares, com uma média de redução de 30 a 35%, e no entanto, 60 a 75% do risco não foi modificado, demonstrando que devemos valorizar um controle mais adequado da dieta, já que esta se relaciona com o stress oxidativo. O IMC igual ou acima de 30, está diretamente relacionado com aumento de mortalidade em todas as faixas etárias. A dieta adequada o uso moderado do vinho reduzem o stress oxidativo e promovem redução de eventos de acordo com o tipo de dieta, como já foi demonstrado nos estudos de Lion e do Mediterrâneo.
Também tivemos a oportunidade de conversar com o Dr. Gilson Feitosa, que participou da mesa redonda que abordava o tema Manuseio Adequado da Insuficiência Cardíaca Crônica , e da sua associação com as co morbidades.
Dr. Gilson abordou aspectos da I.Cardíaca nos idosos, que apresentam co morbidades que frequentemente extrapolam nos estudos randomizados. As co morbidades, como a hipertensão arterial, o diabetes a dislipidemia e outras, são as causadoras da I.cardíaca. Porém, o foco principal de sua apresentação foi para as causas não cardíacas que não são abordadas normalmente neste tipo de evento.
Discorreu sobre a dificuldade de distinção da dispnéia de causa cardíaca, da não cardíaca, como a apnéia central do tipo Cheynne Stokes. Apresentou dados do estudo CANPAP, que demonstrou os benefícios do CPPAP na saturação de oxigênio, com melhora significativa da evolução clínica.
Dr. Gilson também demonstrou os benefícios do uso de beta bloqueadores, nos pacientes portadores de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, não devendo ser usado somente nos pacientes asmáticos; do uso do carvedilol, nos pacientes portadores de insuficiência renal crônica dialítica, com melhora da sobrevida.
Chamou atenção aos médicos sobre o problema da "polifarmácia", principalmente nos idosos, que em média usam de 4 a 12 medicamentos diferentes, devendo ser valorizados medicamentos que comprovadamente tenham evidências na redução de mortalidade, não devendo ser usados medicamentos desnecessários. Recomenda que a cada visita ao consultório, o médico deve confirmar cada um dos fármacos em uso, pois frequentemente são encontrados erros de interpretação quanto as doses, e uso dos medicamentos.
O Dr. Ayrton Brandão, foi entrevistado logo após sua apresentação na mesa redonda que abordou a Síndrome Metabólica na Juventude, que questiona se é a partir desta fase da vida, o início "continuum cardivascular".
Dr. Ayrton apresentou o "Estudo do Rio de Janeiro" , que já esta com mais de 20 anos de seguimento de crianças e adolescentes, numa população global inicial de mais de 7.000 indivíduos de faixa etária variando entre 6 a 15 anos. A finalidade do estudo é acompanhar a evolução destas crianças com seus respectivos pais, identificando a presença de fatores de risco cardiovascular desde a infância. Outros estudos longitudinais como os de Bogalusa, Muscatine, Minneapolis, Finland, Framingham Offspring, Cardia e Santo Antonio, assim como o do Rio de Janeiro, procuram avaliar a influência da história familiar sobre os fatores de risco.
As variáveis estudas são peso, índice de massa corpórea (IMC), pressão arterial sistólica, diastólica, colesterol total, hdl, ldl, triglicérides, glicemia, insulina, e massa do ventriculo esquerdo. A prevalência de síndrome metabólica foi avaliada no período de 1996 a 99 com 9,3%, e no de 2004 a 07 de 23,1%, sendo 12,5% do sexo feminino, e de 43,6% do sexo masculino, com predonínio de hipertensos no grupo com síndrome metabólica em 90,0%, aumento da circunferência abdominal em 93,3%, obesidade em 86.7%, nível de hdl baixo em 70,0%, hipertrigliceridemia em 36,7%, e de glicemia elevada em 13,3%, diferença estatistivamente significativamente quando comparado com grupo sem a síndrome.
A diferença entre os grupos quanto aos níveis de pressão arterial sistólica , diastólica e do IMC, no seguimento de 17 anos, também apresentou significância estatística. Com relação ao risco relativo no desenvolvimento da síndrome metabólica no seguimento de 17 anos, foi para o sexo masculino de 9,68 e do índice de massa corpórea 1,31.
Finalmente, pretendemos com estas informações estreitar o relacionamento da Sociedade Brasileira de Cardiologia com seus associados, principalmente `a aqueles que não tiveram a oportunidade de estar em Buenos Aires.
_____ Fonte: Dr. Carlos Magalhães
|