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Uma cartilha para a
prevenção de doenças cardiovasculares em crianças e adolescentes
Giuliana Bergamo
Eduardo Marques/Tempo Editorial
Aos 13 anos, Djeneffer é diabética e tem colesterol alto:
perigos para a saúde das artérias
Acaba de ser concluída a cartilha brasileira de prevenção
das doenças cardiovasculares em crianças e adolescentes.
É a primeira vez que se estabelece quais os parâmetros ideais
para a população infanto-juvenil controlar os fatores de
risco para infartos e derrames. Com divulgação prevista
para esta semana, durante um congresso da Sociedade Brasileira
de Cardiologia, o documento traz recomendações sobre peso,
pressão arterial, colesterol, atividades físicas, alimentação
e níveis de açúcar no sangue. Até agora, alguns médicos
aplicavam aos jovens as mesmas diretrizes destinadas aos
adultos. Outros adotavam normas estrangeiras – que podiam
ser tanto americanas quanto dinamarquesas ou canadenses.
A falta de consenso comprometia o diagnóstico e o tratamento
dos males que predispõem a infartos e derrames. "A
partir de agora, os médicos brasileiros contam com uma ferramenta
bastante precisa para preservar a saúde cardiovascular futura
dos meninos e meninas de hoje", diz o cardiologista
Bruno Caramelli, diretor do departamento de aterosclerose
da Sociedade Brasileira de Cardiologia e um dos autores
da cartilha.
Criado pelas sociedades brasileiras de cardiologia, pediatria,
endocrinologia pediátrica e hipertensão, o documento tem
por objetivo conter o avanço de distúrbios tipicamente adultos
entre meninos e meninas. A vida sedentária, as dietas gordurosas,
a obesidade e o stress estão fazendo com que males como
a hipertensão, o colesterol alto e o diabetes comecem a
manifestar-se ainda na infância. "Se não controlarmos
esse quadro, em menos de três décadas não haverá hospital
disponível para abrigar tantos infartados", diz a pediatra
Isabela Giuliano, pesquisadora do Instituto do Coração,
em São Paulo. Estudos baseados na necropsia de crianças
vítimas de morte inesperada mostram que, apesar da idade,
algumas apresentavam artérias repletas de estrias, sinal
da agressão sofrida pelos vasos sanguíneos e indício de
problemas cardiovasculares no futuro. Um desses estudos,
publicado na revista científica The New England Journal
of Medicine, em 1998, revelou que quase 30% dos meninos
e meninas de 2 a 15 anos já tinham as artérias coronárias
e a aorta comprometidas.
Estabelecer os níveis ideais de glicemia, colesterol, pressão
arterial ou peso para crianças e adolescentes não é tarefa
simples. Um bom exemplo é o colesterol. O perfil lipídico
de um homem de 40 anos, por exemplo, pode ser muito semelhante
ao de outro vinte anos mais velho. O mesmo não acontece,
porém, entre um garoto de 1 ano e outro de 5. Até os 2 anos,
o colesterol tende a ser abundante na circulação, já que
é matéria-prima para a produção de GH, o hormônio do crescimento,
e para a maturação dos neurônios ( veja quadro). Embora
seja mais fácil mudar hábitos de vida de crianças e adolescentes,
pelo fato de que ainda não estão tão arraigados, isso exige
estratégias de convencimento e educação que devem envolver
pais, educadores e médicos. "Não basta dizer a uma
criança que o consumo exagerado de gordura pode fazer mal
às suas artérias", diz a pediatra. "Mesmo que
ela se convença, é provável que se sinta constrangida ao
chegar à escola com um sanduíche natural."
Há cerca de dois anos, quando Djeneffer Cris Antero, hoje
com 13 anos, recebeu o diagnóstico de colesterol alto, sua
mãe até tentou mostrar-lhe o perigo que isso representava.
Em vão. A garota continuou preferindo doces e frituras a
frutas e verduras. Também não se incomodou em se engajar
numa atividade física. Recentemente, Djeneffer descobriu
que também sofre de diabetes tipo 2. "Agora eu me assustei
de verdade. É muito chato não poder comer o que quero, quando
quero, mas vou fazer de tudo para me cuidar." Vale
a pena, em nome de um coração saudável por muitos anos.
Quadro: Cartilha do coração
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